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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

SôZé

– E para o debate de hoje à noite com o Grande Vate de Argel, qual é o seu prognóstico, SôDalai?

– Não lhe chamo Grande Vate, SôZé. Chamo-lhe MegaVate. Um homem que sabe o número de cantos dos Lusíadas, que diabo!...

– Também conhecerá os cantos à casa, é isso?

– Leia-se, à Pátria.

– Leia-se. Mas olhe lá, não acha que já está tudo decidido?

– Nem pouco mais ou menos. O Grande Bardo Que Não Se Acobarda tem ainda muitas armas na manga.

– Nomeadamente?

– Nomeadamente, quando o Cavaco lhe fizer perguntas sobre questões pragmáticas, chãs, comezinhas, miseráveis, de economia, e assim, sei de fonte segura que ele vai contra-atacar pedindo-lhe exemplos de figuras de estilo nos Lusíadas. Prosopopeias, sinédoques, hipérbatos. Tunga. Vai buscar. Os assessores do PR, que sei que são de primeira água, não o prepararam para isso. Nem eles sabem, coitados.

– Portanto, não há previsões possíveis, SôDalai?

– Só as onopatopeias que o Grande Escriba Que Ninguém Cala soltará quando ouvir os resultados.

– Muito bem, vejamos então como corre o debate hoje à noite. E amanhã, ainda nos encontramos, SôDalai?

– Não, SôZé. O Governo decretou tolerância de ponto. E podemos admitir, por sinédoque, que haverá tolerância não só para o ponto, como também para a vírgula, e todos os outros signos.

– O que caracteriza esta quadra é a tolerância, não é, SôDalai?

– Isso. Resta-nos então fazer votos.

– E dia 23, ex-votos, em acção de graças por ainda haver um cavaco a boiar para nos agarrarmos quando o barco for ao fundo.

– E a tripulação seguir de iate para uma offshore. Bom, despedimo-nos então da Dalai Lista desejando um Ano Novo cheio de prosperidades.

– Antes isso que ser despedido até uma próxima prosperidade.

– Isso.

– Bom Ano, SôDalai.

– Bom Ano, SôZé.

– Bom Ano, DalaiLista.

– Logo ainda há Baú?

- Inda.